“Um humanista é aquele que por causa do ambiente ao qual foi exposto, se interessa pelo futuro da humanidade. É aquele que não descansa com os louros conquistados para si e que evita a inércia e o comodismo, e afirma que qualquer pessoa pode transcender o ambiente com coragem, porque, em outras palavras, tem liberdade de escolha.”
Imrir Lichtenfeld (Sdeor), nasceu em 26 de maio de 1910 em Budapeste, centro do império austro-húngaro. Cresceu e se criou em Bratislava, capital da Eslováquia.
Seu pai, Samuel, foi chefe do serviço secreto local e instrutor de defesa pessoal e técnicas de imobbilização da polícia secreta; condecorado e conhecido como o detetive que mais prendeu criminosos perigosos. Imi acompanhava seu pai, sugerindo movimentos e técnicas que quando utilizadas pelos policiais funcionavam com grande eficácia.
Seu tio era médico e isso garantia acesso aos livros e ao conhecimento sobre o corpo humano. Incentivado por seu pai, Imi começou a praticar várias modalidades de esportes e já em 1928 e 29 venceu vários campeonatos europeus de luta livre greco-romana e no mesmo ano se tornou campeão de boxe. Na década seguinte, Imi se concentrava na luta-livre greco-romana como atleta e instrutor conquistando várias medalhas em competições nacionais e internacionais. Sua formação tinha como base a lei, a medicina e o esporte.
![]() |
Imi nos anos 20 |
A partir de meados dos anos trinta a vida em Bratislava já não era a mesma. Pouco a pouco, grupos fascistas e anti-semitas ganhavam espaço e transformavam a vida do país. Confrontos de rua, perseguições e morte eram a nova realidade. Imi tornou-se líder de um grupo de resistência que lutava contra os grupos fascistas. Entre os anos 1936 e 40, participou de inúmeros e violentos confrontos, sozinho ou em equipe. Imi e seus companheiros enfrentaram centenas, milhares de inimigos em uma guerra cruel e desigual. Todos esses acontecimentos e vivências pessoais de Imi trouxeram como conseqüência o fortalecimento de seu corpo e espírito, preparando-o para os acontecimentos que ainda estavam por vir, e plantaram as sementes que germinaram resultando na criação do Krav Maga.
Imi, por toda a vida lutou em guerras e conheceu todas as faces da violência. Enfrentou inimigos, liderou batalhas e mostrou que todos temos a opção de sobreviver à luta, seja ela qual for. Ensinou a homens simples como utilizar o próprio corpo, transformando-os em soldados imbatíveis. A eficácia de seus ensinamentos surpreende e sua obra é reconhecida no mundo todo. Sua criação torna-se a filosofia de defesa do Estado de Israel e unidades militares de elite ao redor do mundo utilizam suas técnicas. O ensino a civis devolve ao cidadão comum a autonomia, mostrando que qualquer um é capaz de defender sua integridade de qualquer situação de violência do dia a dia. Imi idealizou, realizou e doou à humanidade seu exemplo, sua postura, seus ensinamentos e sua força.
Em 1940, Imi deixou sua terra natal, família e amigos e ingressou na última embarcação que conseguiu escapar das garras nazistas.
Mas durante a longa viagem, sua embarcação foi interceptada pela Marinha Inglesa, que o recrutou para lutar contra os nazistas no norte da África e no Oriente Médio, onde Imi obteve mais experiência que foi incorporada ao Krav Maga. Apenas com o fim da Guerra ele finalmente pôde chegar a Israel.
Já nesta época, meados de 1942, existiam movimentos de defesa, figurados em três grupos; Haganah, Hetzel e Lehi, que lutavam para garantir a sobrevivência do povo que ali vivia, principalmente contra os ataques dos "Fedainim", bandos de criminosos muçulmanos que saqueavam, seqüestravam e matavam com requintes de crueldade. No grupo de defesa Haganah, a maior organização dentre as três, integravam alguns de seus velhos companheiros e alunos do Império Austro-Húngaro, que prontamente apresentaram Imi ao chefe da Haganah, Yitzhak Sadeh, que por sua vez nomeou-o de imediato como responsável pela preparação física, defesa pessoal e combate corpo a corpo de sua organização.
Com a criação do Estado de Israel, Imi se alistou no "Tzahal", tornando-se o instrutor chefe de preparo físico e Krav Maga; começando somente no exército e depois ampliando para a escola de preparo físico de todo IDF. Nos 20 anos seguintes, Imi aperfeiçoou sua técnica especial de defesa pessoal e combate corpo a corpo.
Sua postura e atitude diante às situações que a vida lhe proporcionou, mostram o caminho que o levou a criar sua obra. Ir além; enfrentar injustiças, ameaças, armas, guerra e a morte. E ensinar a todos como fazê-lo também. E não parou por aí. Se preocupou em chegar mais longe ainda, formando discípulos que formariam outros discípulos e assim fazendo com que as técnicas de sobrevivência que formulou pudessem chegar ao maior número de pessoas possível, e assim continuando nas futuras gerações.
Imi Lichtenfeld foi até seus últimos dias, assessor e conselheiro das forças armadas de Israel, além de treinar os faixas pretas mais graduados de Krav Maga e estar presente nos encontros e seminários de praticantes de todo o mundo que aconteciam em Israel, supervisionando e transmitindo pessoalmente suas experiências, descobertas e o significado prático de sua criação, o Krav Maga.
Em carta oficial de "Honra ao Mérito", o chefe do Estado Maior das forças armadas escreve que desde a época da Haganah e Palmah, passando por todos os anos do Tzahal, a capacidade de guerrear e o potencial pessoal de Imi, que foram os alicerces da qualidade do guerreiro israelense, e não houve ninguém mais responsável por este resultado, por esta conquista, que Imi Lichtenfeld.
Na mesma carta é dito que a qualidade do Krav Maga é resultado do valor humanitário de Imi que é estruturado na simplicidade, objetividade, auto-controle, segurança máxima no treinamento e no combate, honestidade e respeito para com o adversário, mesmo ele sendo um inimigo.
Em carta escrita pelo Ministro da Educação e Cultura, Zvulum Amer, é reconhecida a importância da preparação da juventude israelense para enfrentar a violência do dia a dia e, por este motivo, o Ministério da Educação apóia o ensino efetivo de Krav Maga em todas as escolas.
O Ministro então agradece a Imi pela criação de técnica tão eficiente, qualificada com o “mérito azul e branco”. “Azul e branco” é um termo usado em Israel para pessoas que honram o país. Azul e branco são as cores da bandeira de Israel.
O Primeiro Ministro Yitzhak Rabin Z''L declarou em carta que Imi Lichtenfeld é sinônimo de "tornar um soldado ou comandante israelense capaz", sendo “estes dois" uma parte em evidência do sucesso das operações do Tzahal.
![]() |
Bandeira de Israel |
A trajetória de Imi foi marcada com inúmeros conflitos, mas em todos eles, Imi sempre procurou o respeito pela vida humana. Para seus alunos, sempre tentou passar a sensação de família, a importância da verdade, a força do comprometimento.
Seus maiores compromissos foram firmados em simples conversas com xícaras de café na mão, na Cafeteria Ugati, na cidade de Natanya, onde, nos últimos 20 anos de sua vida, tomou suas mais importantes decisões, confiou aos seus alunos as mais importantes missões, e assim fez com que o Krav Maga se tornasse conhecido no mundo inteiro.
“Seja bom o suficiente para evitar o conflito.”
“Resposta simples e natural para situação complicada.“
“Mínimo de movimento de defesa contra máximo movimento de ataque.”
“Faça: mas faça certo.”
“Reaja na proporção da necessidade.”
Essas foram algumas das frases ouvidas por aqueles que tiveram o privilégio de sentar com Imi na cafeteria Ugati onde ele podia falar por horas sobre Krav Maga e suas técnicas. Acreditava na essência do ser humano, e que todos podiam ter suas vidas melhoradas pelo caminho de vida correto. Uma pessoa que tinha a grandiosidade de ouvir diferenças e divergências como pequenas e insignificantes questões diante de uma hierarquia de valores onde a relação pessoal de boa convivência está acima de tudo e deve ser preservada. Via a vida com simplicidade, recebia a todos com coração aberto e sempre tinha uma mensagem a transmitir. Quem se sentava ao seu lado, percebia imediatamente que se tratava de uma pessoa diferente; iluminada, e com grande força de espírito.
Para a tristeza de toda a família Krav Maga, Imi Lichtenfeld faleceu no dia 9 de Janeiro de 1998.
Mas sua obra vive. Seu sonho de vida atravessou fronteiras e já chegou a mais de 40 países. Aqueles que nunca o conheceram pessoalmente ou os horrores das guerras que ele enfrentou, abraçam seu caminho de vida. Suas palavras de sabedoria e simplicidade ainda são ditas nas salas de aula do mundo inteiro. A opção de ser autônomo, romper barreiras, de defender-se de qualquer ameaça; se ainda não sabe qual o caminho, conheça o Krav Maga.
![]() |
KIDÁ! |